
Juliana Bertoldo – USE/SP
16 de julho de 2025A mediunidade, conforme compreendida pela Doutrina Espírita, é uma faculdade natural do ser humano, que pode se manifestar independentemente de crença ou condição moral. No entanto, quando exercida no contexto das reuniões mediúnicas espíritas, exige mais do que a simples capacidade de comunicação com o mundo espiritual: requer preparo, discernimento e compromisso com os princípios que regem esse intercâmbio.
A conduta do médium deve refletir equilíbrio, respeito e seriedade. Espera-se que ele se apresente com pontualidade, assiduidade e discrição, mantendo uma atitude receptiva, mas vigilante. A reunião mediúnica não é espaço para vaidades, disputas ou protagonismos. O médium é um colaborador, não o centro da atividade. Sua postura deve ser de humildade, silêncio interior e disposição para servir, compreendendo que a comunicação espiritual é um trabalho coletivo, sob a direção dos bons Espíritos e da equipe encarnada. A mediunidade, quando compreendida à luz da Doutrina Espírita, revela-se não apenas como uma ferramenta de autodesenvolvimento para o próprio médium, mas também como um instrumento de auxílio ao próximo. Em O livro dos médiuns, segunda parte, cap. XXXII – Vocabulário Espírita, Allan Kardec define o médium como o “intérprete ou medianeiro dos Espíritos”, ressaltando sua função de intermediário entre os dois mundos. No entanto, essa posição não é neutra em termos de consequências morais: o médium é constantemente convidado à vigilância e ao aprimoramento de sua conduta. Espera-se que o médium viva o espiritismo, internalizando seus princípios e aplicando-os no cotidiano. A vivência espírita se expressa na prática da caridade, na paciência diante das dificuldades, na tolerância com os outros e na vigilância sobre si mesmo. Em O livro dos médiuns, segunda parte, cap. XX, item 228, Kardec adverte que os Espíritos inferiores se aproveitam das imperfeições morais do médium, como o orgulho e a vaidade, para influenciá-lo negativamente, o que evidencia a necessidade de humildade e autoconhecimento. A mediunidade é concedida para o bem e pode ser retirada quando mal utilizada, reforçando que seu exercício exige responsabilidade e discernimento, portanto o médium, deve reconhecer a importância da tarefa que desempenha e se esforçar continuamente para estar preparado para ela. Assim, o contato com os Espíritos, especialmente os superiores, atua como um espelho que revela suas imperfeições e o estimula ao progresso espiritual. No entanto, os Espíritos inferiores também desempenham um papel importante nesse processo, pois, ao se manifestarem, frequentemente expõem as fraquezas morais do médium, como o orgulho, a vaidade ou a ambição, se aproveitando dessas imperfeições para exercer influência negativa, o que torna essencial o cultivo de virtudes e o aprimoramento moral. A prática mediúnica, portanto, quando orientada pelo estudo e pela disposição sincera para o aprendizado, transforma-se em um caminho de elevação, fazendo do médium o primeiro beneficiado por essa experiência. O estudo das obras da Codificação Espírita é elemento indispensável à formação do médium consciente e preparado para o exercício responsável da mediunidade. No entanto, essa formação não deve ser compreendida como responsabilidade exclusiva do indivíduo. É dever das casas espíritas, por meio de seus dirigentes e trabalhadores, promover um estudo contínuo, aprofundado e fiel aos princípios da Codificação Espírita, que favoreça não apenas o conhecimento teórico, mas também o desenvolvimento do discernimento, da vigilância e da sintonia com os valores que conferem sentido e elevação à prática mediúnica. Sem esse alicerce, o exercício mediúnico torna-se vulnerável a mistificações, desvios interpretativos e práticas incompatíveis com os fundamentos da Doutrina Espírita. Promover o estudo sério é, portanto, um compromisso com a qualidade das reuniões mediúnicas e com a formação de médiuns verdadeiramente comprometidos com os valores espirituais que sustentam essa tarefa. Nesse contexto, o que se espera do médium na reunião mediúnica vai além da faculdade de comunicação: espera-se conduta equilibrada, responsabilidade consciente e vivência coerente com os princípios espíritas. Quando esses elementos estão presentes, a mediunidade cumpre sua finalidade de servir como instrumento de evolução, esclarecimento, consolo e elevação espiritual, tanto para os Espíritos comunicantes quanto para os encarnados envolvidos na tarefa.
Juliana Bertoldo é diretora do Departamento de Mediunidade da USE.